"O olhar não é forçosamente face do nosso semblante, mas também a janela através da qual supomos que ele nos espia... o objeto diante do qual o sujeito se torna objeto." __Jacques Lacan__
Decidi começar com uma citação de Lacan no qual se pode perceber um certo ter que existir como objeto, para ser percebido. O olhar muitas vezes falho nos mostra objetos que na realidade não existe. Então até aonde o que se vê é verdade? E até aonde o que não se vê é mentira? Olhar é o ato de perceber pela visão algo existente, ver. Mas será que o que não é visto pode ser percebido? Trago esta discussão para entender um pouco sobre o que realmente importa em nossas vidas.
Tenho comigo que perceber algo, torna-o mais visível do que poder vê-lo. E que o ato de ver algo o torna só menos atrativo. Quando desconhecemos algum assunto, vamos atrás de respostas para termos certeza de que, o que se pensa, é o certo. Porém nem tudo pode ser provado - neste caso, provado com provas concretas e visíveis - pois nem tudo é visível aos olhos. O fato aqui intrigante é que neste caso ver supõe uma distância, mas que torna o sujeito mais próximo do objeto visto. Darei um exemplo simples para entender melhor. Quando queremos nos perceber melhor, para entender um pouco mais sobre nós e podermos crescer com esta auto-avaliação, nos distanciamos do nosso modo de olhar para começarmos a nos observar como o outro nos observa. Isso é, nos distanciamos de nós para entendermos o nosso "eu". O que podemos entender com isso é que nem temos várias formas de olhar. Um olhar pode ser visível ou invisível ao olho. Depende do que se procura. Porém ver só é possível com os olhos, o que pode retardar um crescimento invisível no ser.
Para continuar a divagar sobre o olhar, citarei um texto de Clarice Lispector, que me ajudará a chegar ao foco da minha questão - não uma questão sintática, ou simbolicamente significativa, mas uma questão existencial e talvez até ocasional.
"E nesse mundo que eu estava conhecendo, há vários modos que significam ver: um olhar o outro sem vê-lo, um possuir o outro, um comer o outro, um apenas estar num canto e o outro estar ali também: tudo isso também significa ver.” __Clarice Lispector__
Clarice refere-se claramente ao “ver” como o ato de perceber as coisas, sejam elas sensíveis ou não aos olhos. Independente do medo que se pode ter, um dia é preciso compreender o desconhecido, sem a ajuda do que é visível. Meu sentimento de medo só me faz sentir mais a presença do perceber em minha vida. É como se eu não precisasse vê-lo para olhá-lo, é como se eu só precisasse saber que está ali para poder perceber que uma parte do seu ser quer ser minha. Estes vários modos de olhar só me fazem entender que o que sentimos é bem mais real que qualquer coisa que possa ser visto. Mas que isso tudo só pode ser real para quem sente, para quem percebe o invisível sem se preocupar com o visível.
Perceber-se, perceber o outro é só uma das formas de viver. Esta decisão da percepção da própria vida, só pode ser tomada por quem percebe e sente o que não é real, mas o que é real no pequeno extremo do seu próprio coração.
Paz a todos!
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